Enquanto Marcelo Freixo andava na Cúpula dos Povos na quinta-feira (21), pedimos que ele nos respondesse algumas perguntas. Ao ser questionado se era a favor ou contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, ele mostrou-se contra e
afirmou ser uma obra desnecessária. Disse ainda que há manifestações muito
claras de diversos ativistas com respostas concretas, e que o Brasil tem uma
capacidade de produzir energia de várias outras maneiras. Citou as energias
alternativas, como a solar e a eólica, que necessitariam de um investimento
mais barato do que o da usina de Belo Monte, a qual, para ele, seria um atalho
que não nos levará ao melhor caminho. “A gente precisa ter mais
responsabilidade com o planeta e não essa visão imediatista”, afirmou Freixo.
Sobre a Rio+20,
Freixo disse que o resultado da Conferência seria um fiasco, pois a partir do
momento em que os chefes de Estado não quiseram olhar para os erros e acertos dos últimos 20 anos e quiseram só olhar daqui para frente, já se sabia
que o documento final seria muito tímido e acovardado diante dos principais
debates. A Cúpula dos Povos, diferentemente, reuniu uma quantidade imensa de
movimentos, e de acordo com Freixo, mostra que existe toda uma luta viva, com
mobilização enorme de diversos setores. Para ele, da Eco 92 para os dias atuais
houve um retrocesso muito grande, já que ocorreu aumento do número de conflitos
no campo e do número de famintos no mundo. Disse também que o documento da Eco
92 foi muito mais contundente do que o da Rio+20, o que mostra que a covardia
também aumentou. Por fim, declarou que a Cúpula dos Povos nos dá uma grande
esperança, mas que precisamos repensar o modelo de produção e de consumo que
temos hoje. “Sustentabilidade é uma
sociedade que é baseada na dignidade humana e não no lucro. Uma sociedade
sustentável é uma sociedade que sua economia, seu crescimento são calcados na
garantia da dignidade humana para todas as pessoas e não no lucro pelo lucro.
Essa é para mim, a definição mais fácil, pedagogicamente, de ser compreendida”,
afirmou Freixo.
Participar da Cúpula dos Povos foi uma experiência incrível. Eu e umas meninas da faculdade entrevistamos diversas pessoas dos mais variados lugares, como Suécia, El Salvador, Finlândia, Estados Unidos, Alemanha, França, Rússia, fora os brasileiros que vieram de outros estados para se envolver nesse evento histórico.
O nosso objetivo era reunir o máximo de informação para divulgarmos no portal da faculdade, que ainda não está no ar - mas espero que em breve as pessoas já possam conferir nosso trabalho.
Ao andar pela Cúpula, notei que havia muito comércio. E não fui a única a perceber isso. Enquanto conversava com o Diego Santiago, na quinta-feira (21), ele também afirmou que a Cúpula estava bastante comercial. Apesar de ter achado a Cúpula interessante, por conhecer pessoas e culturas, segundo ele, pareceu ser um evento indígena, porque havia muitos índios vendendo seus artefatos.
No outro extremo, o índio Guarapirá Pataxó, de uma aldeia do sul da Bahia, disse que a Cúpula serviu para que eles mostrassem sua cultura e seu artesanato. Ele ainda chamou atenção para a imagem que a sociedade faz do índio e como ela pode ser preconceituosa. Guarapirá declarou que o índio de hoje não é mais aquele de 1500 e que se está falando ao celular ou usando a internet, ele não deixa de índio por causa da modernidade.
O comércio na Cúpula não se restringiu ao artesanato indígena, como o da aldeia do Guarapirá. Na verdade, foi crescendo a cada dia e, já na sexta-feira, o número de ambulantes era bem maior. Camisetas com os "memes", mochilas, fantoches, bijuterias-clássicas-facilmente-encontradas-em-camelôs, são alguns exemplos das bugigangas vendidas por lá.
É claro que a o evento não se resumiu a transações comerciais. Havia tendas espalhadas por todo o Aterro, como esta do Greenpeace na foto à esquerda.
Pessoal do MST foi em peso e gente de outros estados apareceu no Rio, como uma galera que levou uma petição de aumento da licença maternidade para as pessoas assinarem.
Manifestações ocorriam a todo momento, como os protestos das mulheres, que pediam respeito, igualdade e liberdade.
Ou o protesto do grupo de jovens, no vídeo abaixo, contra a forma como os animais são tratados. Eles chamavam a atenção para a relação que existe entre o homem e o planeta.
O importante disso tudo, é a mensagem que fica. É preciso tomarmos uma atitude já. E isso não vale apenas para esse mês de Rio +20, pelo contrário, é uma mudança em nossos hábitos que se inicia agora e não terá mais fim. Que hábitos seriam esses? Ora, hábitos de consumo, de transporte, de respeito. Afinal, a sustentabilidade tem 3 pilares, o econômico, o social e o ambiental. Como disse Fernando Tinguá - na foto ao lado - precisamos dar oportunidade ao planeta, para que o planeta dê oportunidade às futuras gerações.
Participar do Simun foi uma experiência incrível para desenvolver minha habilidade no jornalismo. Pela primeira vez numa simulação, entrei com vontade no Comitê de Imprensa. Minhas expectativas eram altas e logo no primeiro dia fui surpreendida: era a única integrante do jornal no qual havia me inscrito. Depois de ficar mega nervosa no primeiro dia, acabei recebendo uma ajuda inesperada. Um dos meninos, que não estava inscrito no mesmo jornal que eu, caiu de para-quedas e se mostrou prestativo e talentoso na função de jornalista. Ao longo dos dias, nós fizemos o jornal funcionar, dividimos as tarefas e conseguimos cumprir os desafios de transmitir a notícia aos outros participantes da Simulação.
O mais interessante de toda o Simun foi conhecer diversas pessoas que jamais conheceria caso não participasse. As conversas fluíam com naturalidade, como se já conhecesse aquele pessoal há séculos. Antes, eu era muito envergonhada para falar com gente desconhecida, mas fiquei surpresa comigo mesma ao achar bastante fácil e prazeroso me interagir com tanta gente assim.
Talvez seja por isso que gostei tanto de participar da Imprensa. Mesmo que eu não pudesse falar coisa alguma durante as sessões dos outros comitês, assim que elas terminavam e a informalidade voltava, perguntava o que considerava necessário para escrever as matérias para o jornal daquele dia. No entanto, na verdade, conversávamos não só a respeito da Simulação em si, mas também sobre diversos outros assuntos da vida de cada um.
Dei boas risadas, conheci várias pessoas e acredito ter cometido um equívoco no inicio desse texto. Não foi só minha habilidade no jornalismo que aprimorei, foi também minha predisposição a falar com outras pessoas, minha capacidade a ter mais equilíbrio em situações de ansiedade e, com tudo isso, tive a certeza de que cada experiência vale a pena, mesmo que algumas coisas não saiam da exata forma como esperamos.